Sindicatos em Ação - Edição 21 - Julho de 2016 - page 20

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sindicatos em ação
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A perda da importância da indústria em detri-
mento dos setores prestadores de serviços pode
não necessariamente significar uma perda de po-
tencial de crescimento, caso esses setores sejam
de elevado valor agregado, caminho este trilhado
pelos países desenvolvidos. No entanto, o caso
brasileiro está muitíssimo longe disso.
Devido às características da população brasileira,
os empregados que migram da indústria para o
setor de serviços não vão para áreas de alto valor
agregado como, por exemplo, tecnologia da in-
formação, serviços de engenharia, setor financei-
ro entre outros. Esses setores têm um peso muito
pequeno na economia brasileira. Na verdade, essa
migração da indústria se dá para setores que agre-
gam muito menos valor que a indústria. Os dados
do IBGE mostram que um trabalhador típico da
indústria, quando migra para o setor de serviços,
na média agrega para a riqueza do país metade do
que agregava na Indústria.
O resumo disso tudo é que o país destruiu muitos
empregos, mas pior ainda, destruiu empregos de
elevado valor agregado, diminuindo a produtivi-
dade do país.
HÁ UMA LUZ NO
FIM DO TÚNEL?
O primeiro passo para a retomada da atividade
econômica, e consequentemente do emprego, é
a volta da confiança das famílias e das empresas,
sem esse componente nada acontece. Alguns in-
dicadores apontam que está havendo uma certa
recuperação nesse sentido: os indicadores de con-
fiança do consumidor e das empresas voltaram a
subir, já se aproximando da neutralidade.
A estabilização da economia brasileira, que já
mostra indícios de estar ocorrendo, não neces-
sariamente significa que voltaremos a crescer. O
crescimento dependerá de uma série de reformas
econômicas, que estão na agenda do país há muito
tempo, mas que não aconteceram até o momento.
Essas reformas não são novidade para nenhum de
nós: previdenciária, tributária, trabalhista e assim
por diante. Talvez a diferença do atual momento
para o passado é que essas reformas se tornaram
muito mais urgentes.
Partindo-se do pressuposto que o país fará o ne-
cessário para a retomada da economia, o empre-
go será a última variável a se recuperar. A deci-
são de demitir e contratar funcionários depende
das expectativas das empresas em relação ao fu-
turo e ao custo de contratação e demissão desses
funcionários. Quanto mais elevado o custo de
demissão, mais o empresário pesará a contrata-
ção, pois ele sabe que uma decisão precipitada
pode trazer sérias consequências para a saúde
financeira da empresa.
Em reunião recente do Conselho de Relações do
Trabalho da Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo – CORT, o conselheiro Adauto Du-
arte abordou com propriedade o tema, lembrando
a todos que não há como falar em relações do tra-
balho sem falar em atividade econômica. Duarte
destacou também que a retomada da atividade
econômica não será proporcional à curva da re-
tomada da economia, pois os empresários estarão
relutantes depois de tantas demissões difíceis.
Dessa maneira, as relações trabalhistas puxam
para baixo a competitividade do país.
Muitas vezes nossos legisladores esquecem que o
emprego não é uma relação unilateral, sem em-
presas competitivas não há empregos de boa qua-
lidade. A falta de uma reforma trabalhista, que
modernize as relações entre trabalhadores e em-
presas acaba prejudicando a todos, mas principal-
mente, a quem ela pretende proteger: o trabalha-
dor. O momento de crise sempre será penoso para
o país, mas também abre espaço para importan-
tes debates e transformações na sociedade, todas
elas visando colocar o país numa trajetória mais
sustentável de crescimento e fortalecido para mo-
mentos de dificuldades futuras.
C A PA
Fonte: Depecom – Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos
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