Sindicatos em Ação - Edição 21 - Julho de 2016 - page 19

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O primeiro efeito do desemprego, e também o que causa mais
estrago numa economia, é o medo. Quando 6,5 milhões de pes-
soas se tornam desempregadas em tão pouco tempo, todos nós
conhecemos alguém que perdeu emprego e os dramas associa-
dos a isso. Em cidades menores, que tem sua economia depen-
dente de poucas empresas, uma demissão em massa, como as
que estamos vendo ultimamente, acaba também com qualquer
perspectiva de recolocação em outra atividade, encerrando car-
reiras e aumentando a informalidade.
O medo do desemprego é contagioso e, em uma crise dessa mag-
nitude, faz com que mesmo os que estão empregados passem a se
comportar como se estivessem desempregados, comportamento
perfeitamente compreensível. Dessa maneira, os outros 91 milhões
de trabalhadores do país reduziram seu consumo, cortaram gastos,
tomarammenos crédito e toda a roda da economia parou de girar.
A redução do consumo das famílias devido ao medo e a falta
de confiança tem impacto imediato no PIB. Segundo o IBGE,
63,4% do PIB pela ótica da demanda brasileira é consumo das
famílias. Sob a ótica da produção, 72% do PIB está nos setores
de comércio e serviços, diretamente relacionados ao consumo.
Ou seja, sem confiança não há crescimento do PIB.
O segundo efeito, que está diretamente associado ao descrito aci-
ma, acontece na arrecadação de tributos. Quando a economia de-
sacelera, arrecada-se menos e cria-se uma crise fiscal quase que
instantaneamente, haja vista a enorme dificuldade do Estado bra-
sileiro em reduzir seu tamanho. Mais grave, no entanto, é a per-
cepção de alguns gestores públicos que a solução em uma situação
como essa é elevar ainda mais a carga tributária, que retroalimen-
ta a crise, pois tira ainda mais recursos da sociedade, derrubando
a atividade econômica e caindo novamente a arrecadação.
A combinação de falta de confiança das famílias e empresas e fal-
ta de uma política macroeconômica de qualquer espécie colocou
o país na mais grave crise que se tem notícias. Caso as projeções
do mercado se confirmem para 2016, a riqueza produzida no país,
medida pelo PIB, terá encolhido 7% emdois anos, números experi-
mentados apenas por países em guerra ou em graves crises sociais.
A crise recente tem um componente adicional que pode com-
prometer seriamente nossa capacidade de crescimento futuro: a
destruição do capital produtivo brasileiro construído a duras pe-
nas nos últimos sessenta anos. Se considerarmos a Indústria de
Transformação brasileira, a queda de seu PIB nos últimos dois
anos foi de impressionantes 15%. No entanto, esse fenômeno não
é recente, a participação da Indústria no PIB já foi de mais de 20%,
nesse ritmo deverá encerrar o ano próxima a 10% do PIB.
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